Pensei muito antes de escrever este post. Estava relutante em me expor e fazer reflexões sobre mim mesma. Acho que vocês já perceberam que falo muito pouco de mim mesma e de minha vida pessoal. Por vários motivos: entre vários deles é que não gosto de ser mal interpretada e, além de eu ter dificuldade de falar sobre mim mesma por querer ser absolutamente fiel, geralmente, as palavras são pobres para expressarem o que quero; sou uma pessoa de vivências interiores muito profundas e muitas pessoas, por serem mais superficiais (isso não é crítica, são apenas maneiras diferentes de ser), têm dificuldades em entender quando falo de meus assuntos mais complexos e me incomoda mais ainda quando pessoas vêm com aquelas receitas e frases prontas do tipo auto-ajuda. Nesses casos, por mais boa intenção que a pessoa tenha mostra que não entendeu o âmago da questão. Alguém pode me achar prepotente como uma "psicóloga" uma vez me taxou assim na cara numa entrevista para um emprego porque eu coloquei o que pensava mesmo educadamente e ela estava acostumada a pessoas que se diminuem por precisar de um emprego. E de fato, eu não daria certo naquele tipo de empresa com esse tipo de mentalidade exploradora da necessidade humana e que, infelizmente ainda existem aos milhares em nosso país. Mas, de verdade, adoro aquela música: complicada e perfeitinha...rsrsrsrsrsrs...nem tanto assim!
Então...são tantas coisas que vêm aos turbilhões na minha lembrança! Tantas histórias...quantas histórias! Nossa! E tão minhas! Mas, vou deixar de divagações e ir ao que interessa.
Pois então, anteontem (23) foi meu aniversário...cinquenta anos! Nunca dei muita importância a essas coisas de idade porque, de verdade, nunca me senti com a idade que tenho. O corpo teima em me mostrar e minha cabeça sente o contrário. Por isso, nunca tive problemas em dizer minha idade real. Sempre fiquei vaidosa, porque apesar de fisicamente estar envelhecendo, e contra isso não se pode fazer nada, nem com zilhões de cirurgias, sempre pareço mais jovem do que sou. Em geral curto muito todas as etapas de minha vida. Não sou prisioneira da indústria da beleza e não gosto de dar meu rico e suado dinheirinho para os altos lucros da cosmética e, pior, da "medicina" estética. Não dou valor a invólucros, dou valor a conteúdo... e, na verdade, nem de maquiagem eu gosto. No máximo, quando é preciso, uso lápis, delineador ou um rímel e um batom. Só.
Só que 50 pesou. Pesou pela situação inusitada que estou vivendo. Sinto-me na metade e em metades. Vou explicar: na metade, talvez porque, imaginariamente ou desejosamente, 50 marca a metade da
vida. Marca a metade de uma vida construída e rica de vivências as mais diversas durante cinquenta anos. Fui bebê, infantil até não querer mais, adolesci, sonhei todos os melhores sonhos, apaixonei-me algumas vezes, casei cheia de amor, ganhei da vida três presentes lindos, cresci, tornei-me guerreira por força das circunstâncias, lutei, guerreei, cai, levantei, me afundei, levantei de novo, chorei, sorri, brinquei, molequei muito e sempre mudando e me (re)adaptando...tudo o que uma pessoa sensível e emotiva pode sentir. Minha vida é um livro sim e não cabe nestas poucas linhas deste post. E tudo isso ficou no Brasil. Não trouxe comigo. O que trouxe para cá foram as lições que tirei de todas essas experiências. Do pouco que construí materialmente, trouxe apenas o que cabia em duas malas de 32 kg todo o resto ficou lá. Aqui tive que construir tudo de novo...do zero. Até o apartamento que aluguei somente tinha um fogão, uma geladeira e uma pequena estante. Tive que mobiliá-lo todo e com todos os utensílios: pratos, copos, talheres, panelas, etc etc etc. Nem minha língua serve de nada aqui. Costumo dizer que hoje aqui, mesmo sendo pós-graduada, ironicamente, sou analfabeta porque não consigo ler, surda porque não consigo entender o que ouço e muda porque não consigo me comunicar.
50 anos ficaram no Brasil. Continuo guerreira e destemida... aprender uma nova língua...difííííííííícil!!!! Mas estou aprendendo...aos poucos vou deixando de ser uma letrada analfabeta-surda-muda. A vida diária aqui ajuda muito a superar as dificuldades normais de quem imigra. O país e a cidade são organizados e voltados para os interesses e bem estar dos cidadãos; vive-se a paz, não há sobressaltos...violência social passa longe daqui. Sustos se toma com notícias de ano em ano de batedores de carteira ou com bêbados mais exaltados na rua ou algum louco insandecido que cometeu um assassinato.
O meu maior sobressalto aqui é a solidão. E olhe que sou pessoa que gosto de estar só a maioria do tempo. A dificuldade de comunicação por conta de um inglês básico aliada à timidez se transformam numa barreira enorme para se construir novas relações, seja de amizade ou de amor mesmo. Acrescente-se nesse caldeirão a timidez ou desconfiança dos finlandeses em geral com estrangeiros....aí o negócio complica. Consigo me aproximar com mais facilidade de jovens (brasileiros ou estrangeiros) do que de pessoas de minha idade. Só que a rotina deles não é a minha. Complicado! As duas ou três pessoas mais ou menos de minha idade com quem me relaciono um pouco mais perto são estrangeiras. A comunicação reduzida por idiomas diferentes é um complicador e um limitador, tanto para se fazer entender, como para expressar pensamentos um pouquinho mais elaborados, além do que cansa a mente pensar e falar todo instante em idiomas diferentes.
O meu maior sobressalto aqui é a solidão. E olhe que sou pessoa que gosto de estar só a maioria do tempo. A dificuldade de comunicação por conta de um inglês básico aliada à timidez se transformam numa barreira enorme para se construir novas relações, seja de amizade ou de amor mesmo. Acrescente-se nesse caldeirão a timidez ou desconfiança dos finlandeses em geral com estrangeiros....aí o negócio complica. Consigo me aproximar com mais facilidade de jovens (brasileiros ou estrangeiros) do que de pessoas de minha idade. Só que a rotina deles não é a minha. Complicado! As duas ou três pessoas mais ou menos de minha idade com quem me relaciono um pouco mais perto são estrangeiras. A comunicação reduzida por idiomas diferentes é um complicador e um limitador, tanto para se fazer entender, como para expressar pensamentos um pouquinho mais elaborados, além do que cansa a mente pensar e falar todo instante em idiomas diferentes.
Sinto muita falta sim de minha família. Sinto muita falta sim de meus amigos. Amigos não se faz da noite para o dia. Leva tempo. É um jardim delicado, que pede regas e cuidados quase que diário. Meu jardim de amigos é recheado de belas plantas floridas e crescentes porque sempre foram cuidados por todos estão lá no Brasil.
Por isso tudo e mais um tanto estou com a sensação de metades. Metades de vida e metades vividas.
Passei meu aniversário sozinha. Mas minha família e meus amigos cuidaram tanto mesmo de longe, desde domingo, desse momento importante na minha vida...e uns me escreviam, e outros me chamavam no msn, e mandavam scraps e sms que, mesmo sozinha, não me senti só. Não foi fácil, mas consegui aproveitar, sem tristeza pela saudade, o belo presente que a natureza me deu...um dia agradável e lindo de sol...inteirinho. E fui passear. Onde? Alguém adivinha? Suomenlinna, claro...rsrsrsrsrsr. E, mais uma vez, foi mágico! Descobria cada cantinho, cada paisagem, cada bichinho, cheiro de mar, o calorzinho do sol e o friozinho gostoso do vento leve, gente de biquini, gente de paletó e gravata, gente fazendo fotos publicitárias, fotos de pose, fotos de paisagem, gente pegando sol nas pedras das encostas e nas pequenas praias, gente fazendo piquenique, gente jogando, gente em grupos, gente sozinha como eu, gaivotas e pássaros, e até um atrevido dançando num parapente para lá e para cá ao sabor do vento perto das rochas sobre o mar, barcos de todos os tipos e tamanhos e o rastro iluminado do sol sobre as águas baldeadas do mar. Esse foi meu aniversário. Tirei tantas fotos...mais de 400...todas lindas! A maioria está aqui.